Alguem parecido com Mahatma Gandhi inspira a Índia a lutar contra a corrupção

Na "nova" Índia, muitas vezes obcecados com riqueza e status, onde astros de críquete e do cinema de Bollywood são amplamente idolatrados, Anna Hazare parece ser uma figura de uma era descartada. Seu boné branco e sua simples roupa de algodão branco evocam a simplicidade de Gandhi. Seu comportamento simplório pode provocar risos da elite urbana da Índia.

No entanto o Sr. Hazare, 74 anos, emergiu como líder improvável de um movimento de pessoas furiosas na Índia, que se juntaram num protesto público em combate à corrupção envolvendo os anseios mais profundos de uma sociedade marcada pela mudança.

Sua prisão na terça-feira, feita enquanto caminhava para um parque de Nova Delhi onde pretendia começar uma greve de fome como parte de sua campanha anticorrupção, levou milhares de pessoas às ruas das cidades em toda a Índia. Sobpressão da opinião pública, funcionários do governo tentaram libertá-lo dentro de horas, mas o Sr. Hazare se recusou a deixar a cadeia, a menos que o governo o liberasse incondicionalmente. Na quinta-feira os dois lados chegaram a um acordo e o Sr. Hazare deixou a prisão na sexta-feira para liderar uma greve de fome e protestos em massa no centro de Nova Delhi, como forma de forçar o envio do seu pedido para que o governo crie uma poderosa agência independente de anticorrupção.

O protesto popular desencadeado inevitavelmente atraiu comparações com os levantes democráticos da Primavera árabe. A maioria dos analistas concorda, porém, que a situação na Índia é diferente. Mas, a sua maneira, pode revelar-se não menos importante.

A Índia já tem suas liberdades democráticas questionadas por manifestantes no Oriente Médio e Norte da África e desfruta de uma influência global crescente após duas décadas de rápido crescimento econômico. Mas a Índia também está experimentando o que os observadores chamam de "agitação", pelas frustrações públicas que fervem por causa de estradas ruins, escolas de má qualidade, inflação, aumento da desigualdade social e principalmente pelo tamanho da corrupção oficial.

Todas essas questões têm em comum a profunda desilusão pública com o processo político da Índia e o afastamento crescente entre a classe governante e os governados, tornando o problema de corrupção especialmente explosivo. A multidão que apoia o Sr. Hazare fica cada vez maior e mais furiosa e, nesta semana, mais e mais pessoas chegaram às ruas de Nova Delhi com seus contos de corrupção.

Mr. Hazare nasceu Kisan Baburao Hazare, em 1937, na zona rural do Maharashtra. Ele ainda fala Marathi como seu idioma natal e, eventualmente, assumiu o nome Anna. Durante 15 anos serviu nas forças armadas, qualificando-se a uma pensão, após o que retirou-se para Maharashtra para retomar o trabalho social. Foi premiado com dois dos maiores prêmios civis da Índia,por seu trabalho, que inclui esforços para aliviar a seca, e trabalhou para criar uma "aldeia modelo sustentável”, como fez Gandhi. Na década de 1990 o Sr. Hazare começou a encenar greves de fome em Maharashtra como forma de pressionar autoridades estaduais ligadas à corrupção.

Seu perfil nacional cresceu consideravelmente nesta primavera, quando chegou à Nova Delhi para começar uma greve de fome exigindo que o governo apresentasse um projeto de lei no Parlamento para criar a agência anticorrupção conhecida como Lokpal. Quando milhares de pessoas inesperadamente sairam em apoio, funcionários do governo convidaram Anna para participar de um comitê especial que vai elaborar o projeto de lei “Lokpal".

Por várias semanas, durante o verão, o Sr. Hazarefoi um visitante periódico numa casa de hóspedes do governo em Nova Delhi, enquanto participava de reuniões da comissão. Durante uma entrevista no início de junho ele falou, muitas vezes em discursos dramáticos, sobre a necessidade de eliminar a corrupção, prevendo que as pessoas iriam apoiá-lo novamente, se necessário.Seus métodos e objetivos não impressionaram a todos. Críticos o acusaram de tentar sequestrar o processo democrático através de táticas de pressão de protesto. Outros alertaram que o tipo de Lokpal por ele imaginado poderia perturbar o equilíbrio das instituições democráticas do país e acusaram o seu grupo de se recusar a fazer concessões.

Finalmente as negociações da legislação Lokpal foram suspensas em junho. O governo já apresentou um projeto de lei ao Parlamento durante a sessão atual, mas o Sr. Hazare criticou-o como sendo muito fraco. Esta semana ele chegou a Nova Delhi para começar outra greve de fome, quando a polícia o prendeu.
Em frente ao presídio de Tihar e em outros lugares na cidade as pessoas cantaram o nome do Sr. Hazare e expressaram sua raiva contra a corrupção na vida diária. Estudantes da faculdade reclamaram que as famílias ricas podem comprar a admissão de seus filhos nos melhores colégios. Um homem que tem um negócio de caminhões reclamou que teve que pagar um suborno de 10% a um funcionário público para obter o certificado que ateste que ele pagou a taxa de transporte de seu veículo.

“Hoje, quando estávamos chegando, um guarda de trânsito parou nosso veículo e sugeriu que desembolsássemos algum dinheiro", disse Singh Ajab Gujar, o proprietário do negócio de caminhões. "Eu gritei: 'Vitória para Anna Hazare!' O policial imediatamente nos permitiu passar sem qualquer tipo de suborno".

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